Como será que o mundo vai estar no ano de 2082? Segundo os sonhos da Anna, personagem do livro de hoje, nada bem: a temperatura do planeta vai ter aumentado tanto que o gelo do Ártico derrete completamente, os biomas terão se transformado de maneira radical, os refugiados do clima serão uma realidade e a maioria da fauna e da flora que conhecemos hoje terá desaparecido. Vai haver até um aplicativo que informa em tempo real à medida que mais animais são extintos. Sonhos, não; pesadelos, né?
Em Anna e o planeta, eles são tão recorrentes e vívidos que a menina começa a acreditar que não são sonhos, mas visões que ela tem do futuro, segundo a perspectiva de sua bisneta, Nova, que vive essa realidade. Nos sonhos, Anna presencia o grande ressentimento de Nova em relação à maneira como as gerações passadas trataram as questões do clima, fazendo muito pouco quando ainda havia tempo.
A narrativa se desenrola, portanto, em dois momentos distintos do tempo: o presente de Anna, em 2012, quando ela está prestes a completar dezesseis anos, e seu futuro, a partir de 2082, quando, com 86 anos, ela vivencia as frustrações da bisneta.
Assim, os capítulos do livro se alternam entre a realidade do sonho e o presente da menina, que encara esse momento como uma última chance para tentar impedir a catástrofe no futuro. É quando, com seu namorado Jonas, ela começa a pesquisar e juntar material para “pôr a mão na massa”, como ela diz, e criar uma organização ambiental.
O criador dessa trama recém-lançada no Brasil é o norueguês e ativista ambiental Jostein Gaarder, autor do enorme sucesso O mundo de Sofia - alguém aí já leu? Se não, vale muito a pena! Os dois livros têm algumas semelhanças: as duas personagens centrais são adolescentes inquietas e inteligentes às voltas com questionamentos filosóficos, ou seja, que envolvem a busca por compreender a si mesmas e a realidade em que vivem. Quem nunca, diz aí? 😉
As duas também encontram um interlocutor bem mais velho com quem dividem essas angústias. No caso de Anna, é o psiquiatra com quem ela se consulta e que compartilha da preocupação com o aquecimento e o futuro do planeta.
Já Sofia faz uma volta ao passado por meio da história da filosofia ocidental, da Grécia Antiga ao século 20, orientada por um professor. Paralelamente, a um mês de completar quinze anos, ela começa a receber cartões-postais que são destinados a outra menina, que ela não conhece, mas que tem a mesma idade e faz aniversário no mesmo dia dela.
Há ainda outras semelhanças entre os dois livros, mas as diferenças também são evidentes. Anna e o planeta tem uma trama bem mais curta e de menos fôlego, digamos assim, que O mundo de Sofia. Mas ó, os dois valem a leitura! Dá pra reconhecer a voz e o estilo do autor nos dois, ainda que os momentos históricos sejam diferentes e que, em Anna, o problema premente do clima seja central ‒ embora não menos dependente da filosofia da qual O mundo de Sofia se constrói ao redor. Afinal, é só com a filosofia e a ciência que podemos ter alguma chance de encontrar respostas para a questão que emana dessas duas histórias: para onde (e como) vamos a partir daqui?
Ah, O mundo de Sofia está na biblioteca do Colégio, assim como vários outros títulos do Jostein Gaarder! Vai lá emprestar!
Livro: Anna e o planeta/O mundo de Sofia
Autor: Jostein Gaarder
Editora: Seguinte
Páginas: 168/568
Ano: 2017/2012