“Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis”: show de música com a poesia de Manoel de Barros no Teatro Municipal
Poético II, de Martha de Barros, 2016
Oi, pessoas, tudo bem? E aí, vocês já têm programa pro fim de semana? Quem anima ir ao teatro nesse sábado (08/04), hein? É que, no Teatro Municipal aqui de Sorocaba, vai ter apresentação do espetáculo Crianceiras, que faz uma mistura muito boa e muito linda da poesia do autor mato-grossense Manoel de Barros (1916-2014) com música, teatro, animação e tecnologia digital! Olha só um vídeo do show:
Muito bacana, não é, não? Concebido pelo músico Márcio de Camillo, o projeto começou em 2012 com um CD e o próprio show, que apresenta também as iluminuras animadas da Martha Barros, artista plástica e filha do poeta. Desde outubro do ano passado, o Crianceiras também tem um aplicativo grátis disponível para ios e Android.
Lá tem clipes de sucessos como “Sombra boa” e “O menino e o rio”, com animações da arte delicada da Martha Barros, e uma seção de poemas em que, com o toque, as palavras ganham sons e se misturam com outros elementos animados. Vale baixar, hein?
E aí, vamos conhecer um pouquinho mais sobre o Manoel de Barros antes de ir pro show? Bom, primeiro: tem vários livros do autor na biblioteca, vai lá emprestar! Mas então: o Manoel era muito tímido, uma “sem-graceira”, segundo ele! E, além de poeta, vejam só, ele foi fazendeiro durante boa parte da vida. E é justamente do Pantanal e da fazenda que vêm quase todo o “assunto” da poesia dele. Tanto que tem muitas palavras desse meio que sempre reaparecem nos poemas, como pedra, caracol, árvore, lesma, sapo, água, rã, musgo… já reparou? Essas coisas do cotidiano, bem corriqueiras e brasileiras e que, pro Manoel, eram muito importantes!
Ele também foi considerado o maior poeta brasileiro vivo pelo Carlos Drummond de Andrade (o próprio!) e ganhou dois Jabutis, que é o principal prêmio da literatura brasileira. Sucesso, né? Pois é. Porém, olha só o que dizem esses versos aqui:
“Nasci para admirar o à-toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras […] ”
“Mosca dependurada na beira de um ralo –
Acho mais importante do que uma joia pendente.
Os pequenos invólucros para múmias de passarinhos
que os antigos egípcios faziam
Acho mais importante do que o sarcófago de Tutan-
câmon. […]”*
A poesia dele é assim: de linguagem simples e atenta às coisas inúteis, desprezadas, desimportantes. Ele diz em outro verso: “Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!”. Afinal, essas coisas de uso pouco “prático”, que vivem meio esquecidas por aí, são mesmo essenciais pra deixar a vida mais cheia de graça, de beleza e de encanto. Como a própria poesia, né? ❤
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Ah, o ingresso pro Crianceiras você pode comprar na Bilheteria Rápida, na Livraria do Elefante (rua Arthur Gomes, 89, Centro) e no próprio Teatro Municipal, uma hora antes do espetáculo, que vai ter duas sessões: às 15h e às 18h, nesse sábado, 08/04.
*trechos de poemas tirados do Livro sobre nada, Editora Record, 1996.