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Paula Lima

Sagarana: clássico da literatura brasileira

Atualizado: 25 de out. de 2019


Talvez esse seja o primeiro post sobre Sagarana que não foi escrito por causa de vestibular, nem por pesquisa universitária, tampouco por novidades editoriais. Estamos falando sobre esse clássico da literatura brasileira porque mês que vem ele completa 72 anos de publicação!

"Sagarana" é um hibridismo — neologismo ou palavra inventada que junta dois radicais de línguas diferentes —, em que “saga-”, de origem germânica, significa canto heroico, e “-rana”, do tupi-guarani, é imitação. Assim, "sagarana" quer dizer conjunto de histórias que se assemelham à saga de um herói. Muito legal, né?

Sagarana foi o primeiro livro publicado de Guimarães Rosa, em 1946, pela pequena editora Universal. Relativamente desconhecido até então, o autor, com essa reunião de nove contos/novelas, relata a rigidez do sertão enquanto construía sertanejos à imagem de heróis clássicos. No ano passado, a editora Nova Fronteira lançou uma nova edição do título em capa dura (vejam algumas capas que o livro já teve aí embaixo!). As novelas que compõem a obra são: "O burrinho pedrês", "A volta do marido pródigo", "Sarapalha", "Duelo", "Minha gente", "São Marcos", "Corpo fechado", "Conversa de bois" e, finalmente, o famigerado "A hora e a vez de Augusto Matraga".

O próprio autor apontou esse conto foi sua vitória íntima, o que tinha buscado conseguir durante a elaboração de todo o livro. O conto condensa todos os principais temas presentes na obra: o sertão, o povo, a jagunçagem, a religiosidade e o amor. A história é centrada em Augusto Matraga, o Nhô Augusto, um coronel que abusa do poder que tem, sempre humilhando a população e sua família. Vai acontecendo uma série de fatos que o colocam como vítima de uma tentativa de assassinato, da qual ele consegue fugir ferido. É resgatado por um casal bem simples de outro povoado, se recupera e jura que, a partir daí, vai seguir uma vida melhor, mais justa e boa.

Ele acaba voltando para sua terra natal um tempo depois, resiste a todos os impulsos agressivos em relação ao destino de seus familiares — a mulher está casada com outro e a filha se perdeu na vida — e segue pacificamente seu caminho até encontrar uma família ameaçada pelo homem que o tentou matar. Augusto resolve salvar o pobre homem das mãos de seu inimigo e acaba morrendo como herói. "A hora e a vez de Augusto Matraga" trata da redenção do ser humano, de segundas chances, do potencial de transformação do homem e das muitas nuances que existem entre o bem e o mal.

O conto foi vertido para o cinema pela primeira em 1965, com direção de Roberto Santos, e se tornou um clássico do Cinema Novo. Em 2015, o diretor Vinícius Coimbra estreou a sua versão - alguém aí já assistiu? O trailer é esse aqui:


Os contos de Sagarana estão todos repletos de simbolismo, causos populares e questões do sertão de Minas Gerais, que transcendem o Regionalismo, universalizando-se. O livro mostra a luta pela formação do Brasil, abordando questões que vão além do cenário do sertão. Apesar de o autor fazer uma crítica à vida e à sociedade brasileira excludente, de acordo com Luiz Roncari, professor aposentado de literatura brasileira da USP, ele “não queria uma ruptura, e sim uma literatura que pudesse, ao mesmo tempo que a modernização, integrar também as antigas tradições. Não era um sujeito de exclusão”.

Para finalizar, seguem aí abaixo algumas ilustrações que o artista gráfico Poty fez para a editora José Olympio nos anos 1950:

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