No blog de hoje vamos falar sobre Paulina Chiziane autora e ativista social moçambicana. O alunos do Ensino Médio do Colégio Uirapuru trabalham esse livro em sala de aula e, por se tratar de uma leitura para vestibular, nós disponibilizaremos alguns links de trabalhos acadêmicos, podcasts e vídeos explicando não só o contexto social e histórico ao qual a autora está inserida, mas também sobre suas obras e entrevistas para maior compreensão do pensamento dessa autora tão importante e necessária.
Biografia resumida de Paulina Chiziane
Paulina Chiziane é uma autora moçambicana, nascida em 04 de junho de 1955. Aos seis anos, mudou-se para Maputo, onde iniciou seus estudos em uma escola católica, e acabou aprendendo também o idioma português. A região onde ela cresceu foi marcada pela dominação portuguesa, sendo assim desde a juventude a autora já lutava em frentes sociais, como a Frente de Libertação de Moçambique (frelimo).
Em junho de 1975, Moçambique se torna independente, iniciando uma guerra civil, Chiziane tornou-se voluntária na cruz vermelha, mas sua atuação social e política não acabou após o fim da guerra, em 1992. A autora passou a fazer parte do Núcleo das Associações Femininas da Zambézia (Nafeza), organização não governamental criada em 1997, na cidade de Quelimane.
Em 2021, a autora foi agraciada com o Prêmio Camões de Literatura, a mais alta distinção concedida a escritores de língua portuguesa. Com essa conquista, ela se tornou a primeira mulher africana a receber essa prestigiada honraria.
Características da obra de Paulina Chiziane
As obras de Paulina fazem parte da literatura moçambicana pós independência e é marcada por:
Protagonismo da mulher negra;
Realismo social e crítica de costumes;
Reflexão sobre a condição feminina;
Fluxo de consciência ou monólogo interior;
Linguagem lírica;
Pluralidade cultural.
“A escrita é um espaço de liberdade onde posso negociar a minha própria identidade, o que sou, o que faço, quais são os meus sonhos”, disse em entrevista ao Brasil de Fato durante sua passagem pelo Brasil.
Obras de Paulina Chiziane
Balada de amor ao vento (1990)
Ventos do apocalipse (1993)
O sétimo juramento (2000)
Niketche: uma história de poligamia (o livro mais conhecido da autora - escrito em 2002)
O alegre canto da perdiz (2008)
As andorinhas (2009)
Eu, mulher: por uma nova visão do mundo (Artigo escrito em 2013)
Ngoma Yethu: o curandeiro e o Novo Testamento (2015)
O canto dos escravizados (2017)
“Comparo a mulher à terra porque lá é o centro da vida. Da mulher emana a força mágica da criação. Ela é abrigo no período da gestação. É alimento no princípio de todas as vidas. Ela é prazer, calor, conforto de todos os seres humanos na superfície da terra.”
No artigo Eu, mulher: por uma nova visão do mundo
Romance publicado pela Companhia das Letras, traz à tona a representação de uma sociedade africana patriarcal e poligâmica, situada no Sul de Moçambique.
O título reflete o que há na história. É como se sempre que a Sarnau buscasse o amor, ele fosse levado pelo vento. O amor que ela deposita em Mwando é como uma brisa leve e ao mesmo tempo é uma rajada cortante.
A narrativa é focada em três personagens: Sarnau, Mwando e o rei de Mambone. é escrito em 1° pessoa e quem nos conta a história é a própria Sarnau. Ela é uma mulher que, ainda jovem, se apaixona perdidamente por Mwando, um jovem que estava estudando para se tornar padre, mas ele se apaixona por ela também, largando assim, o seminário.
“Tudo começou no dia mais bonito do mundo, beleza característica do dia da descoberta do primeiro amor.”
Eles tentam um relacionamento, porém a família de Mwando já havia prometido o rapaz para outra mulher, abandonando Sarnau. Desiludida, Sarnau encontra-se à beira de um penhasco na vila e quando estava prestes a desistir de tudo, o medo toma conta e ela tenta voltar à beira, mas acaba tropeçando e caindo no rio.
As pessoas da aldeia a encontram e conseguem reanimá-lá, eles consideram isso um milagre, pois segundo suas crenças, nem a morte conseguiu levá-la, ela passou a ser a mãe de todas as mães e mãe da terra. O lobolo dela (preço a ser pago pela mão da noiva na cultura africana) se torna alto e ela se casa com o filho do rei de Mambone. Ela é a primeira esposa num casamento poligâmico.
Em todo o livro vemos uma forte interferência religiosa em torno dos personagens. Como Mwando não aceitando ter um relacionamento poligâmico para poder ficar com a Sarnau, visto que era um homem cristão. Vindo de uma família católica, Mwando encontra resistência por parte de seus familiares em aceitar Sarnau como esposa, pois ela não compartilha da mesma fé. Diante disso, os parentes de Mwando escolhem uma jovem chamada Sumbi, que é católica, para ser sua noiva.
Em meio a tantas tristezas que sua nova vida lhe trás, ela reencontra Mwando, engravida e tem um filho, a traição da esposa do rei é paga com a vida, visto isso, ela decide fugir com Mwando, deixando seu marido e filhos para trás.
Balada de amor ao vento é um romance que destaca as dificuldades enfrentadas por Sarnau e sua luta pela sobrevivência, mais do que pela felicidade. O sofrimento é constantemente retratado como um símbolo de superação, e a trajetória da personagem é marcada por contrastes, como a dor versus a busca por felicidade.
“Compreendeu finalmente que a vida é a dor e a alegria, a vitória e a derrota, a ofensa e o perdão, o amor, o ódio, e todos os contrários.”
Vale ressaltar que:
Os temas abordados em Balada de amor ao vento são questões que precisamos falar sobre, não podemos relativizar só porque se trata de outra cultura, precisamos compreender a realidade do outro.
A literatura de Paulina Chiziane revela a realidade do que é ser mulher em Moçambique, permitindo ao leitor explorar sentimentos e emoções que muitas vezes são silenciados em uma sociedade onde as mulheres são ensinadas a ocultar seus desconfortos e dores.
O livro pode causar diversos gatilhos, dado a intensidade dos temas tratados.
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