Anne Frank, autora do diário mais famoso do mundo, morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen há quase exatos 75 anos atrás. Em 15 de abril de 1945, as tropas aliadas (formadas por União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido e França) libertaram o campo onde a menina estava presa, porém, ela faleceu - com apenas quinze anos - poucos meses antes, vítima de tifo, doença que contraiu no campo de trabalho forçado.
Em homenagem à data, a Casa Anne Frank (que fica em Amsterdã, no lugar do Anexo Secreto, onde ela passou dois anos confinada e escondida com a família e outras quatro pessoas) lançou no final de março a série Anne Frank Video Diary, no Youtube, com quinze episódios sobre a vida de Anne. Todos os personagens, locais e eventos da série são baseados no diário. Dá para ver um trailer da série abaixo:
Um pouco de história
Em 8 de maio de 1945 teve fim na Europa a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), quando a cidade de Berlim foi tomada por tropas soviéticas. Estima-se que, nesse período, tenham morrido cerca de 60 milhões de pessoas. Uma das principais causas da deflagração do conflito foi o expansionismo e o militarismo da Alemanha sob o domínio nazista, que havia sofrido medidas punitivas com o desfecho da Primeira Guerra. Uma narrativa de humilhação tomava conta do país: pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha foi obrigada a pagar indenizações aos países que venceram a guerra, teve seu número de soldados de infantaria reduzido etc. Sendo assim, o país encontrava-se endividado, com muita pobreza e poucos empregos.
Em 1929, a Alemanha enfrentava essa enorme crise e a população ansiava por uma solução. Nesse cenário, Adolf Hitler, líder do partido nazista, surgiu prometendo restaurar o orgulho dos tempos áureos do país. Nesse mesmo ano, nascia a judia Anne Frank, porta-voz de toda crueldade cometida contra os judeus nesse período.
O partido nazista do Führer se ancorava em uma ideologia violenta para dividir radicalmente a sociedade alemã: de um lado haveria a raça ariana, como símbolo de força, superioridade e pureza germânica; do outro, judeus, negros, estrangeiros e homossexuais, caracterizados como seres inferiores culpados pela crise que a Alemanha enfrentava.
Nascida em Frankfurt, na Alemanha, Anne Frank, desde os três anos, foi obrigada a passar por grandes mudanças em sua vida para fugir do antissemitismo que se espalhava pelo país. Sua família precisou se mudar para Amsterdã, na Holanda, onde teve uma vida normal até maio de 1940, quando os nazistas invadiram o país. Os alemães implementaram leis que proibiam os judeus de frequentar parques, cinemas e lojas, além de ser obrigados a fechar as portas dos seus negócios, o que afetou Otto, pai de Anne.
Assim, em julho de 1942, a família da menina decide se esconder em um anexo secreto construído nos fundos do escritório de seu pai, que ficava escondido atrás de uma estante de livros. O lugar pode ser explorado na visita virtual do site da Casa Anne Frank.
Em agosto de 1944, policiais vasculharam o local e encontraram a família Frank e outros quatro judeus - todos foram deportados para o campo de concentração e extermínio de Auschwitz. A viagem até lá durou três dias, durante os quais a família - e milhares de outros judeus - ficaram amontoados em vagões de gado. Em Auschwitz, havia uma seleção que separava aqueles que poderiam ir para os campos de trabalho forçado e os que morreriam ali mesmo, nas câmaras de gás.
Com isso, a família foi separada. Apenas Anne e Margot, sua irmã mais velha, foram transportadas juntas para o campo de Bergen-Belsen. As condições no campo eram péssimas: não havia comida suficiente para todos, muito menos água potável, o frio era devastador e as horríveis condições sanitárias resultavam em surtos de doenças como disenteria, tifo, inanição e tuberculose. Dezenas de milhares de prisioneiros morreram dessas doenças, incluindo Anne e Margot, que tinham quinze e dezoito anos respectivamente, e contraíram tifo. Anne faleceu em fevereiro de 1945. Os Aliados libertaram os 60 mil prisioneiros do campo em 15 de abril do mesmo ano.
Pós-guerra
Apenas Otto Frank, o pai das meninas, sobreviveu à Guerra. Ele estava em Auschwitz e foi libertado pelos russos. Ao chegar à Holanda, descobriu que a esposa e as duas filhas estavam mortas. Ele entrou em contato com uma holandesa que havia ajudado a família a se esconder, e encontrou com ela o diário de Anne, que foi publicado pela primeira vez em 1975 e é uma das obras mais lidas do mundo: já foi traduzido para 70 idiomas e vendeu cerca de 30 milhões de cópias.
Ronald Leopol, diretor-executivo da Casa Anne Frank, em Amsterdã, afirmou que o diário íntimo da adolescente lembra os horrores do Holocausto e permanece mais atual do que nunca. Ele disse o seguinte: "É exatamente por isso que permaneceu relevante nos 75 anos desde a Segunda Guerra Mundial e, portanto, estou convencido de que continuará sendo relevante para as gerações futuras"
No diário, a garota descreve seus sentimentos mais profundos, seus medos, sonhos e receios provocados pelo isolamento forçado no pequeno anexo com sua família e os outros quatro judeus. Ronald explica que os jovens “podem se identificar com ela. Reconhecem sua voz, o que ela pensava, o que fazia e quando tinha problemas com a mãe”.
O diretor afirma ainda que o diário “nos oferece a oportunidade de tirar lições do passado nestes tempos difíceis que vivemos em 2020”.
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