No texto desta semana, mergulharemos no fascinante universo da literatura de cordel através da obra "Desafios do Cordel", livro que os alunos do 4º ano do Ensino Fundamental estão começando a ler, escrito pelo autor brasileiro César Obeid. O cordel é um gênero bastante popular no nordeste brasileiro e compõem parte da cultura oral e escrita do nosso país!
César é um autor brasileiro reconhecido por sua versatilidade literária, explorando gêneros que vão desde a poesia até a distopia infantojuvenil. Nasceu em São Paulo, em 1974 e uma de suas paixões é a escrita. Ele escreve de tudo um pouco e hoje tem aproximadamente 40 livros publicados. Ele também gosta muito de ensinar as pessoas a escreverem, principalmente poesia e literatura. Ele também tem alguns cursos de formação no assunto.
Alguns de seus livros foram premiados pela Fundação Nacional do do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e outros foram selecionados para a Feira do Livro de Bologna, na Itália. César é vegano, ou seja, ele não consome nenhum alimento, roupa ou produto que tenha origem animal. De acordo com a sua biografia, disponível no site oficial do autor, César é “um amante da natureza [..] ele encontra alegria em cozinhar refeições saudáveis e em cuidar do meio ambiente. Seu coração bate mais forte ao ar livre, onde ele gosta de correr, meditar e cultivar suas próprias plantas.”
Seu livro, escolhido para compor o currículo do 4º ano do Fundamental I , apresenta uma coletânea de cordéis que abordam temáticas variadas, desde questões sociais até contos folclóricos, revelando a riqueza e a diversidade desse gênero tão peculiar. O livro é organizado em ciclos, onde encontramos o ciclo dos recontos, o ciclo jornalístico, das biografias e o ciclo dos desafios e das pelejas. Ao final da obra, César organizou uma tabela de modalidades do cordel, com todas as posições das rimas, números de versos, sílabas poéticas e observações sobre esse gênero. Essa tabela contribui muito para observarmos e compararmos as diferentes modalidades dos cordéis.
Entre os cordéis presentes na obra, destaca-se o primeiro "Um cordel sobre o cordel", que narra de forma poética e lúdica as características destes versos rimados. A modalidade deste cordel é uma sextilha, veja abaixo como ele é rimado!
"Um cordel sobre o cordel
Eu pretendo apresentar
È uma arte versejada
Da cultura popular
Que nasceu lá no Nordeste
para o mundo apreciar.
São as rimas de cordel
Encaixadas nas sextilhas
Nos martelos e galopes
Nas oitavas e sextilhas
Que encantam muito mais
Do que as sete maravilhas.
O cordel só é aceito
Com os versos bem rimados.
Cada verso bem medido
Todos bem metrificados.
Assim manda a tradição
Dos poetas inspirados.
É na forma de folhetos
Que ele tem sua tradição
Porém hoje outras formas
Temos de publicação
Como livros e internet
E outras tantas que virão.
O cordel pode conter
Alguns temas atuais
Ou histórias inventadas
Ou mil causos naturais
Pois os versos do cordel
Contam isso e muito mais.
O folheto nordestino
É uma arte genial.
E a origem desse nome
Provém lá de Portugal.
Esse nome porque era
Pendurado no varal.
Pendurar os folhetinhos
Não é nossa tradição
Ora iam em barbantes
Ora em bancas ou no chão.
O barbante não foi regra
Do poeta do sertão.
O cordel era vendido
Lá nas feiras do Nordeste
Lá no Brejo e Cariri
No Sertão ou no Agreste.
Hoje está pelo Brasil
Desde o Norte até o Sudeste.
O cordel vendido em feiras
Precisava entonação.
Pra história ficar boa
E chegar no coração
Corpo e voz tinham que ter
Uma grande expressão.
Pra dizer um bom cordel
Tem que ser bem inspirado
Pois ninguém aguenta ouvir
Um cordel desanimado.
Mas o verso fica lindo
Quando é bem declamado.
Vejam só qual é a técnica
Dos poetas do Sertão
Que paravam a história
Num momento de emoção
Para o povo então comprar
Seu folheto campeão.
E assim muitos poetas
As famílias sustentaram.
Com a venda dos folhetos
Muitos lucros aumentaram.
Porém hoje, os folhetos
Novos passos conquistaram.
O cordel hoje é presente
Lá nas feiras culturais
Faculdades e escoltas
E também outros locais.
Todo mundo abriu as portas
Para os versos naturais."
Este cordel é uma sextilha, uma das modalidades de cordel que existem e que as estrofes são compostas por seis versos. A modalidade da sextilha é bastante usada no início de cantorias de viola e também é a mais utilizada na literatura de cordel. As rimas são alternadas; um verso rima e o próximo não. Veja o trecho destacado para perceber as rimas e onde elas são encaixadas na estrofe:
“O cordel pode conter
Alguns temas atuais
Ou histórias inventadas
Ou mil causos naturais
Pois os versos do cordel
Contam isso e muito mais.”
O diferencial do livro “Desafios de Cordel” está na habilidade do autor em mesclar tradição e contemporaneidade, mantendo viva a essência do cordel enquanto dialoga com os desafios do mundo moderno. A escrita de César é divertida, é inteligente e a sua presença é cativante. Ano passado, o autor esteve no Colégio Uirapuru para apresentar suas rimas aos alunos do 4º ano, responder suas perguntas e autografar seus exemplares! Foi um encontro inesquecível, que ficou eternizado pela tinta de sua caneta e na memória das crianças.
Veja alguns dos livros escritos pelo César que estão disponíveis em nossa biblioteca: