Escrito por Ilan Brenman e ilustrado por Anuska Allepuz, “O que a terra está falando” nos traz de volta à condição racional do que é ser humano. Com foco na resolução de conflitos, o autor lembra que o melhor caminho é sempre o diálogo e a sabedoria para lidar até mesmo com as situações mais difíceis.
Em uma região antiga que possuía vários nomes, um agricultor tem uma terra herdada pelo pai, nas bordas do imenso deserto Neguev, porém após muito esforço e trabalho para plantar naquele solo, sem absolutamente nenhum sucesso, ele decide tentar a sorte em outro lugar, mais ao norte do país. Sua dúvida, sobretudo, estava em com quem deixar a terra herdada.
Seu vizinho, um entregador de leite que conhecia há décadas, seria a melhor pessoa para arcar com essa responsabilidade. Sem pensar duas vezes, o agricultor faz a proposta ao rapaz, que aceita de imediato, mas pede para trabalhar a terra.
– Não perca seu tempo com esse terreno amargurado, e rachado, de lá não nascerá absolutamente nada. – Respondeu o agricultor.
Mas o entregador vence por insistência e o contrato de empréstimo temporário é selado com um abraço e um aperto de mão. Cada um segue com seu plano: o agrícola segue para o norte e o vizinho em seu empenho para produzir algo naquele chão já desenganado.
Com uma esperança destemida, o rapaz vende o burrinho que o auxiliava na entrega do leite e trabalha cem vezes mais do que o antigo dono do terreno. Saía pela manhã e só voltava ao anoitecer. Vivia sujo, com as mãos machucadas e o corpo dolorido. Foi julgado louco por insistir em algo que não lhe daria futuro algum, mas não importava, seu objetivo era claro e já estava estabelecido.
Após um ano inteiro de luta, o milagre se mostra! As plantas começaram a furar o solo e aos poucos, a terra toda estava coberta de verde, seguindo fértil pelos anos seguintes também. O deserto florescia e o homem se empenhava cada dia mais. Até que o antigo agricultor retorna e, surpreso com o que via, quase acreditou estar no lugar errado. Os amigos se abraçaram, mas um clima de tensão surge quando o herdeiro daquela terra agradece ao ex-entregador pelo feito em sua terra.
De quem era aquele solo agora? Um afirmava que havia apenas pedido para que o outro cuidasse do local em sua ausência. O outro insistia que a terra deixada não existia mais e aquilo era resultado de seu trabalho, além disso, nunca mais recebeu notícias do amigo.
A conversa vira uma discussão raivosa e gritante. Ofensas começam a ser trocadas e ambos não chegam a acordo nenhum. Os gritos chamaram a atenção dos que ali passavam, até que uma senhora sugere que peçam ajuda ao juiz Lior, que sempre auxiliava ricos e pobres nos momentos que precisavam, com seu senso de sabedoria e justiça. Assim é feito e Lior chega para entender o que acontecia. Ao ouvir a briga aumentar novamente, ele se deita no chão e diz que a terra estava dando uma resposta e essa, choca a todos.
Uma obra envolvente e capaz de evocar o que há de mais simples, apontando soluções para se refletir sobre relações em sociedade e ainda, sobre a importância de uma comunicação não violenta.
A ilustradora, Anuska Allepuz e Ilan Brenman, o autor.
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