Vocês sabiam que Sorocaba faz parte da rota de um caminho indígena pré-colombiano que ligava o Oceano Atlântico, no litoral paulista, ao Peru? É o conjunto de trilhas conhecido como caminho de Peabiru, que nascia em São Vicente, subia a Serra do Mar, pegava o Planalto Paulista na região de São Bernardo do Campo, passava por São Paulo no atual bairro do Ibirapuera e vinha para Sorocaba por São Roque, seguindo a rota da rodovia Raposo Tavares, aproximadamente.
Os indígenas utilizavam essa trilha para transporte, claro, e também havia trocas intensas de produtos entre as tribos por onde ele passava. Os trechos do caminho que ainda existem preservados contam 1,4 m de largura e são pavimentados com pedras ou grama, que os indígenas plantavam para que a trilha não fosse fechada pela mata.
De acordo com o historiador José Rubens Incao, diretor da Biblioteca Infantil de Sorocaba, há várias ruas e avenidas da nossa cidade que foram traçadas de acordo com o desenho dessa trilha milenar, como é o caso da General Carneiro e da avenida São Paulo. José Rubens esteve aqui no Colégio no início de outubro para uma conversa com os alunos do 4º ano, que, por meio da criação de uma agência de turismo, estudaram a história de Sorocaba.
O encontro começou justamente com a história do Peabiru e dos indígenas, que foram os primeiros habitantes da região de Sorocaba. Numa paisagem natural que inclui os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado e o rio que corta a cidade, eles viviam da caça, da pesca e da colheita de frutos e plantavam milho e mandioca. José Rubens contou que, com a chegada dos bandeirantes, os nativos fugiram para o sertão, mas legaram aos primeiros sorocabanos muitos de seus costumes, como dormir em redes e comer milho e mandioca. Além disso, deixaram uma enorme quantidade de nomes que usamos até hoje: Sorocaba (terra rasgada), Ipanema (água ruim), Votorantim (cascata branca), Cajuru (boca do mato) etc.
A região virou vila quando Baltazar Fernandes, que era filho de indígenas e portugueses, herdou da mãe a "chácara" de Sorocaba, área que ia de Santana do Parnaíba até o Paraná. Ele criou a primeira rua da cidade, a rua de São Bento, e pediu a construção do Pelourinho, que indicava a elevação a vila. Além disso, foi também construída a igreja de São Bento e a primeira rua do comércio, que hoje é a Braguinha. José Rubens contou aos alunos que a vida dos sorocabanos era difícil: acordavam muito cedo para trabalhar na roça, dormiam em redes em casas que eram feitas de taipa (barro socado) e as mulheres, por exemplo, quase nunca saíam de casa.
A economia da cidade começou com os bandeirantes, que desbravaram o interior do Brasil à procura de índios e chegaram a Cuiabá, onde descobriram ouro. Quando o ouro acabou, os sorocabanos começaram a trazer mulas do Rio Grande do Sul para vender nas feiras que se organizavam aqui - eram os tropeiros. As mulas eram muito resistentes e transportavam diversos produtos, inclusive o ouro de Minas Gerais. Nas feiras de moares, também eram vendidos facões e redes produzidos aqui na cidade, que ficaram muito famosos em todo o país.
Quando o Brasil inteiro passou a vender mulas e as feiras já não atraíam tantos compradores, teve início o plantio de algodão para a produção de tecidos. Foi aí que começou a vocação têxtil da região: foram construídas as grandes fábricas têxteis e as ferrovias para transportar o que elas produziam. O historiador contou ainda que, nesse início da industrialização, o trabalho infantil era amplamente utilizado para trabalhar cerca de 12 horas por dia, o que deixou as crianças indignadas.
Para finalizar, as crianças fizeram perguntas muito interessantes para José Rubens: quiseram saber o que significavam os unicórnios da bandeira da cidade, por exemplo. Ele explicou que a bandeira é formada por um brasão português, o morro de Araçoiaba, o colete dos bandeirantes e os unicórnios - que na verdade representam as mulas do período dos tropeiros, mas, como os unicórnios são animais mitólogicos que representam a pureza, foram escolhidos para ficar no lugar delas.
Aqui no nosso acervo, nós temos muitos livros sobre a história de Sorocaba que podem ser usados para pesquisa. O mais novo deles é Sorocaba: onde o Brasil descobriu o interior, da editora Origem, que conta, por meio de fotografias e um acabamento diferenciado, a história do país a partir da nossa cidade como ponto de partida para a colonização do interior. Como deu para perceber no breve panorama traçado por Zé Rubens aqui no Colégio, a cidade teve parte em processos importantes, como a comida no Centro-Oeste levada pelos exploradores de ouro, a maneira de falar dos gaúchos levada pelos tropeiros etc.
E, para finalizar com uma frase de José Rubens, "É preciso resgatar esse orgulho da nossa cidade por meio de sua história, que tanto influenciou em vários aspectos a cultura de todo Brasil". Quem aí topa conhecer mais sobre a nossa cidade? O próprio historiador realiza as caminhadas históricas pelo centro da cidade semestralmente. A programação da Biblioteca Infantil está disponível na página do Facebook da instituição.
É muito triste saber que meu povo sempre está sendo expulso da própria casa, e os brancos acham lindo isso tudo, que orgulho de Sorocaba ? Isso mesmo ?